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Conselhos, bons ou ruins?

Na vida, as vezes damos e recebemos conselhos e, eu costumo as vezes dar conselhos pros meus amigos/as dos quais sempre acaba ajudando um ou outro, fazendo-as a repensar algumas coisas de suas vidas. Mas não é porque damos conselhos que, no fundo, no fundo minha vida também tem problemas e que a luz no fim do túnel não é tão visível quanto parece. Eu posso aconselhar as pessoas sem necessariamente ter de viver cada palavra, até por que as vidas são distintas, experiências são pessoais e cada um faz o que bem entender de sua vida.
A sabedoria popular diz que se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia. Vejo isso como um engano tremendo, provando que não há sabedoria alguma nessa sentença. Poucas coisas são tão importantes na vida, como ter ouvidos para conselhos sábios. Quantos de nós já não nos arrependemos de termos feito uma coisa, que alguém tempos antes nos dizia para não fazer. Claro que precisamos de experiências próprias, mas também é claro que não podemos errar tudo sozinho. A vida é pequena para isso, e a maneira de como lidamos com os erros é que determina nosso destino, a distância para alcançarmos nossa jornada. A diferença entre um homem inteligente e um sábio, é que o primeiro aprende com os próprios erros e o segundo com o erro dos outros. Quem viu o buraco desvia, quem evita a queda vai mais longe, quem está sozinho pode ir mais rápido, mas quem está em boa companhia vai mais distante e, na vida, o importante é ir sempre mais longe e não mais rápido. As pessoas precisam aprender uma coisa eterna: nós podemos nos perder de tudo e de todos, mas nunca poderemos nos perder de nós mesmos. O homem que aceita que não é o único, nem onipotente, sempre vai ouvir uma boa palavra, ou pelo menos estar preparado pra ouvi-la. Quem aprende a ouvir, aprende quase toda a lição, talvez por isso tenhamos nascidos com duas orelhas e uma boca. Jesus Cristo, sem nenhuma apologia cristã, ensinou por meio de parábolas, de histórias com fundo moral. Alguns os receberam como espinhos, outros como pedra, outros como terra batida, mas houve os que ouviram como terra fértil e neles o conselho frutificou.

Diz uma história antiga, antiga mesmo, pré-socrático, que um jovem recém casado, andava muito triste por não poder dar à sua jovem, linda e amada esposa, a vida que ele achava que ela merecia. Meses depois do casamento, decidiu que partiria em busca de fortuna, porque senão nunca teria seu coração sossegado, mas que só faria isso se ela prometesse esperá-lo, demorasse o tempo que fosse.
Ela então renovou seus votos de amor, dizendo-lhe que esperaria pelo resto da vida se fosse necessário.

O jovem partiu e, depois de vários dias de viagem, encontrou emprego numa fazenda de um homem muito bom e bem-sucedido. Contou-lhe seu problema e disse que não queria receber dinheiro algum pelo trabalho, que tudo, descontados os custos de sua manutenção, deveria ficar guardado com o patrão. O dia que achasse possuir dinheiro suficiente para dar uma boa vida à mulher, então receberia tudo e partiria. Nada aconteceu no primeiro, nem no segundo ano, quando o moço se deu conta, vinte anos haviam se passado.

Pediu as contas ao patrão e percebeu que havia juntado uma grande soma. Quando estava para partir, foi interpelado pelo ex-patrão dizendo-lhe que trocaria tudo o que ele ganhou por três conselhos. O moço riu e desdenhou. O homem então lembrou-lhe que sempre fora rico e bem sucedido e, portanto, merecia ser ouvido, mas que entendia seu desejo de partir.

O ex-empregado então pensou, pensou e reconheceu que o patrão tinha razão. Devolveu-lhe o dinheiro com uma dor no coração, mas certo de que tinha feito uma boa troca, que os conselhos poderiam lhe render muito mais. O fazendeiro então contou-lhe os três: 1)O verdadeiro caminho é o do centro, nunca pegue atalhos; 2) meta-se apenas com a sua própria vida, não tenha curiosidade em excesso; e 3) seja paciente, não faça nada com raiva. Depois de ouvi-los, o moço sentiu-se um otário e entristeceu-se muito de saber que voltaria para casa vinte anos depois sem nada. O fazendeiro então ofereceu-lhe um pacote de pães par que partilhasse com a sua mulher e um pouco de dinheiro para a viagem de volta.

Desiludido, o marido sonhador, agora desiludido, agora homem feito, começou o caminho de volta. Já era quase noite e ele estava longe de tudo, quando foi abordado por um sujeito que lhe ofereceu caminho alternativo , pelo meio de uma floresta, para que chegasse mais cedo a casa, já ia aceitar, quando se lembrou do primeiro conselho e não aceitou o convite. Chegou bem mais tarde a uma pousada e, para surpresa do gerente, estava vivo. O homem lhe contou que havia um grupo de assassinos convidando pessoas para a floresta, roubando-os e matando-os depois. O homem ficou aliviado por ter ouvido o fazendeiro. Pagou por um quarto, mas no meio da noite ouviu uns gritos de horror vindos da portaria, já estava com a mão na maçaneta, quando se lembrou do segundo conselho, voltou a dormir. Na manhã seguinte o gerente contou-lhe que um bandido havia matado todos os clientes que ousaram sair de seus quartos. De novo viu-se agradecido. Partiu muito feliz e, depois de muito andar, chegou perto da sua casa. Qual não foi sua surpresa quando viu sua mulher sentada no chão, acariciando os cabelos de um jovem. Tomado de muita raiva resolve matar os dois. Lembrou-se então do terceiro conselho e, como os outros dois haviam lhe valido tanto, deitou e dormiu. Pela manhã bateu na porta de sua casa e foi recebido aos beijos por sua mulher, que lhe apresentou o filho de 19 anos que ele não conhecia, posto que quando partiu sua esposa estava grávida sem que ele soubesse.

Mais uma vez agradecido por ter evitado uma tragédia, conseguiu coragem para contar o acontecido a todos e pedir desculpas por trazer apenas pão depois de uma ausência de 20 anos. Quando abriu o pacote, viu que ele continha todo o dinheiro que havia ganho. Só ai pôde perceber que o patrão não só havia lhe poupado a vida, mas também suas economias.


Depois de uma história dessas, fica muito difícil ignorar as palavras de alguém, não sou sábio nem pretendo sê-lo, digo palavras pela minha vivência, mas tenho esperanças de que homens bons produzam boas palavras e que palavras bem-ditas gerem ações transformadoras. Admoestação nunca é demais, pense nisso!

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